sábado, 24 de dezembro de 2011

1822, de Laurentino Gomes

Foto da capa 1822.
Exclusivo do blog.
Título Original:
1822
Autor:
Laurentino Gomes
Origem:
Brasil
Tradução:
*livro nacional*
Editora:
Nova Fronteira
Ano:
2010


Quem observasse o Brasil em 1822 teria razões de sobra para duvidar de sua viabilidade como nação independente e soberana. De cada três brasileiros, dois eram escravos, negros forros, mulatos, índios ou mestiços. Era uma população pobre e carente de tudo, que vivia à margem de qualquer oportunidade em uma economia agrária e rudimentar, dominada pelo latifúndio e pelo tráfico negreiro. O medo de uma rebelião dos cativos tirava o sono da minoria branca. O analfabetismo era geral. De cada dez pessoas, só uma sabia ler e escrever. Os ricos eram poucos e, com raras exceções, ignorantes. O isolamento e as rivalidades entre as diversas províncias prenunciavam uma guerra civil, que poderia resultar na fragmentação territorial, a exemplo do que já ocorria nas colônias espanholas vizinhas. Para piorar a situação, ao voltar para Portugal, no ano anterior, o rei D. João VI, havia raspado os cofres nacionais. O novo país nascia falido. Faltavam dinheiro, soldados, navios, armas ou munição para sustentar uma guerra contra os portugueses, que se prenunciava longa e sangrenta. As perspectivas de fracasso, portanto, pareciam bem maiores do que as de sucesso. Nesta nova obra, o escritor Laurentino Gomes mostra como o Brasil, que tinha tudo para dar errado, deu certo em 1822 por uma notável combinação de sorte, improvisação, acasos e também de sabedoria das lideranças responsáveis pela condução dos destinos do novo país, naquele momento de grandes sonhos e muitos perigos. 
(texto retirado da contracapa) 


Não sei bem como comentar sobre este livro, porque, ao contrário de todos os outros que li anteriormente, este aqui não trata de personagens em especial, mas de um país em especial. 1822 tratará de como ocorreu a independência do Brasil no ano que dá título ao livro e desmistificará alguns detalhes em nossa história.
O primeiro (que eu fiquei perplexa e estou até agora) é sobre o famoso quadro de Pedro Américo, que está atualmente no Museu Paulista da USP (popularmente conhecido como Museu do Ipiranga), em que D. Pedro aparece sobre um imponente cavalo com a espada erguida aos céus, enquanto ele é rodeado pelos alvoroçados Dragões da Independência, durante o querido grito “Independência ou Morte”. Quando pensamos neste grito, a primeira imagem que vem a nossa cabeça é este quadro.
Porém, no dia em que D. Pedro decidiu separar o Brasil de Portugal, ele não estava sobre um cavalo, mas sobre uma mula. Para chegar à São Paulo, era preciso subir as serras e o melhor meio de fazer isto era sobre estes pequenos animais de carga. Depois, até onde se sabe, a primeira testemunha do “grito da independência” foi um padre e não aqueles belos cavaleiros de brancos. E por fim, naquele dia glorioso, o jovem príncipe estava com diarréia (coitada da mula...).
O quadro de Pedro Américo é suspeito de plágio do quadro do francês Jean-Louis Ernest Meissonier, Napoleão em Friendland. No quadro, aparece Napoleão bem ao centro sobre uma leve elevação, sobre um majestoso cavalo, com o braço erguido e rodeado por sua guarda montada em cavalos correndo que brandiam suas espadas. As duas obras são inegavelmente parecidas. E eu não vou colocar na postagem as duas para serem comparadas, pois no livro elas já aparecem lado a lado. E quiser vê-las, pode consultar o livro.
Focando novamente neste último, 1822 é um resumo muito bem arquitetado que não deixa lacunas na história da independência brasileira. Caracterizará cada personagem que foi crucial para a separação de Portugal, como o mulherengo e juvenil D. Pedro, o sábio e maduro José Bonifácio e a desconsolada e abandonada D. Leopoldina (fiquei com muita pena da coitada). Outros personagens como Thomas Alexander Cochrane, um escocês obsessivo que pode ser tanto vilão como herói nesta história, e D. João, que apesar de quase não aparecer muito é também muito importante, também são citados e caracterizados, mostrando que a história que nós conhecemos não foi um conto de fadas bonitinho.
E para terminar, o livro também não fala somente sobre como ocorreu a independência, mas o que houve logo depois. Contará como D. Pedro batalhou duro para manter o Brasil unido e não ocorrer o mesmo com a América Espanhola, o que houve com ele e com todos os outros personagens, mas principalmente o que houve com o Brasil, “um país que tinha tudo para dar errado” (no livro explica por que. Se você ler, achará que, hoje, o Brasil é uma maravilha). 
O autor, Laurentino Gomes, deve ter tido um trabalho árduo para escrever este livro. Foram milhares de pesquisas, livros lidos, bibliotecas visitadas, locais históricos percorridos, entrevistas feitas, resenhas, resumos, solucionar fatos que não coincidiam, encaixar histórias... Imagine tudo isso somando com o modo lindo com que ele escreve! Sim, esta foi uma dos livros mais bem escritos que eu já li. Parece apenas uma conversa entre amigos. Livro facílimo de ler, não há como se perder, porém exige certa paciência do leitor. Algumas vezes, ele retoma alguns fatos para que o leitor entenda os seguintes, o que eu acho maravilhoso: o leitor não se perde e o modo como ele aborda o que já foi dito não torna o livro muito repetitivo.
Este livro entra no “Tops”, apesar de já estar lotado rs. É muito difícil um livro não me agradar, por isso elogio a maioria e metade deste número entra nos favoritos. Mas quem ler irá gostar muito e concordará comigo.
Agradeço a um amigo que me emprestou sem ao menos eu pedir. Ele já sabia que eu iria gostar. E amei! Um dos melhores do ano.

PS: eu ainda não li 1808, falando da chegada da família real ao Brasil, apesar de ser o primeiro do Laurentino Gomes. Estou reunindo força de vontade, porque este tipo de livro tem que ser lido quando temos paciência de acompanhar fatos históricos.
PS 2: ouvi dizer que o próximo livro do autor será 1889, que falará da república. Este deve ainda mais interessante.

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