sexta-feira, 1 de março de 2013

O Continente, de Érico Veríssimo


Título Original:
O Continente
Autor(a):
Érico Veríssimo
Origem:
Brasil
Tradução:
*livro nacional*
Editora:
*sem informação*
Ano de publicação:
1947


Todo brasileiro leitor com um pouco de bom gosto tem a obrigação de ler O Tempo e o Vento, obra-prima de Érico Veríssimo. Admito: só li os três primeiros volumes (de quatro) por enquanto, mas pretendo ler outros livros até voltar para esta saga, com o objetivo aproveitar melhor a história. Portanto, meu conselho para quem irá começar é, entre os livros, ler outras obras para não ficar tão exaustivo.
José Lírio, popularmente conhecido como Liroca, está tomando coragem para atravessar a principal rua de Santa Fé e tomar posto na torre da igreja, onde vigiará o Sobrado, lar dos Terra Cambará. Por muito tempo, Liroca frequentou o Sobrado, sendo amigo íntimo de Licurgo Cambará, o patriarca, e apaixonado por Maria Valéria, cunhada de Licurgo. Mas agora ele precisa chegar até a igreja e impedir que os sitiados alcancem o poço de água.
A luta é entre federalistas e republicanos em um pequeno município no interior do Rio Grande do Sul no ano de 1895. Licurgo é o principal representante de um dos grupos em Santa Fé, enquanto Bento Amaral, “que domina Santa Fé politicamente”, e seu filho Alvarino estão do outro lado. A rivalidade entre os Amaral e os Cambará é antiga e será explicada em um dos capítulos do livro.
Partindo de Liroca e entrando no Sobrado, o clima é de tensão e medo, pois, além dos homens estarem sem água, comida e munição, a esposa e prima de Licurgo, Alice, está muito doente e em trabalho de parto. Por outro lado, Maria Valéria mantém a casa organizada e cuida da irmã e dos dois sobrinhos, Toríbio e Rodrigo, como uma rainha em seu castelo. Licurgo vigia a rua, seus homens e pensa em sua amante, Ismália Caré. Já Dona Bibiana (grande mulher), está sentada no sótão em sua cadeira de balanço. Quem vê aquela senhorinha caquética e caduca, jamais imaginaria a mulher forte e imponente que foi.
Os capítulos que se passam no Sobrado são basicamente sobre as situações destes personagens (Licurgo, Maria Valéria, Alice, Rodrigo, Toríbio e Bibiana). Outros personagens como Floriano, tio e sogro de Licurgo, e Fandango, o capaz do latifúndio dos Cambará, também aparecem e mostram sua importância.
No Continente também será narrada a origem da família, iniciando com Pedro Missionério, um jovem “índio” misterioso e místico, que foge de um massacre em sua vila e acaba na fazenda de Maneco Terra, um homem rijo, brutal, quase primitivo. Ele é pai de Ana Terra, uma bonita moça que, apesar de jamais ter saído de suas terras, é de uma coragem austera e inabalável. Ana, quase acidentalmente, engravida de Pedro, que é assassinado pelos irmãos Terra. Seu “desfrute” coloca à prova a coragem citada, quando Ana vê sua família rechaçá-la e ela dá à luz Pedro Terra, que será ignorado pelo avô (pelo menos, por um tempo).
Como bem sabemos, Rio Grande do Sul, por ser uma fronteira, vive assolado por guerras e conflitos. Ana Terra não fugiria deste carma. E mais uma vez, sua coragem entra em ação.
Depois de reviravoltas assustadoras, Ana e Pedro, acompanhados por uma cunhada e sua filha, partem com um comboio com destino para Santa Fé, uma recém-fundada vila por Ricardo Amaral. Nesta vila, Pedro se casará com Arminda e terá dois filhos: Juvenal e Bibiana.
Juvenal, quando já moço, conhecerá um certo Capitão Rodrigo Cambará: sedutor, boêmio, impulsivo, explosivo. Qualquer pai de família sentiria os pelos do corpo eriçarem se um homem como este se aproximasse de sua recata filha... Pedro Terra saberá descrever melhor esta situação quando Juvenal ajuda Rodrigo a se alojar na cidade e apresenta (indiretamente) sua irmã a ele.
Por um momento, Rodrigo, no calor de sua paixão por Bibiana, pensa em “endireitar a vida” para casar com a linda moça, porém encontrar concorrência em Bento Amaral. Não que isto seja um problema, pois ele é um Cambará e Cambará macho não foge.
Inicia uma rivalidade entre Cambará e Amaral que perdurará por anos. Rodrigo e Bento duelam certa noite, mas Bento foi desleal e quase assassina seu oponente. Rodrigo ficará aos cuidados de Bibiana e, com a ajuda do Padre Lara, consegue enfim casar-se com a moça (para o desagrado do Amaral). O casal têm três filhos: Bolívar, Anita e Leonor...
Mas esta alegria não dura por muito tempo: Rodrigo não consegue manter sua rotina ajuizada e começa a procurar por sua liberdade: jogo, bebida, mulher, guerra. Apesar de trazer uma imensa infelicidade para Bibiana, esta última ignora libertinagens do marido, focando-se no cuidado da casa e dos filhos. E esta já triste realidade se torna pior com o início da Guerra dos Farrapos, quando Rodrigo parte para os conflitos sem aviso.
Anos se passam depois das consequências da Guerra, Bolívar e seu primo Floriano se apaixonam pela mesma mulher: Luzia Silva, neta de Aguinaldo Silva. Porém, apesar de sua beleza estonteante, tem algumas peculiaridades que lhe rendem a antipatia de toda Santa Fé. Paradoxalmente, Bibiana incentiva seu filho a se casar com a moça... Mas qual seria o verdadeiro motivo daquela pacata e respeitada senhora?
Bolívar, apesar de ser magnificamente parecido com seu pai, de nada tem sua personalidade: é mais sentimental e não é entregue aos prazeres da vida. Por outro lado, seu amor cego por Luzia faz com que ele se entregue erroneamente às vontades sórdidas da mulher. Para a sorte do rapaz, ele pode contar com sua mãe que enfrentará a “teiniaguá” de frente.
Bolívar e Luzia tem um filho, Licurgo, que será sagazmente criado pela avó no Angico. Será neste latifúndio que o clã Caré se alojará. Sendo um Cambará, a paixão de Licurgo por Ismália será avassaladora e arriscada, principalmente com o casamento de Licurgo e Alice se aproximando.
O grande clã Terra Cambará passará por todos os grandes acontecimentos da história regional e nacional. E mais do que pela parte histórica, esta magnífica saga de Érico Veríssimo vale a pena pelo romance, pelos personagens, pela trajetória das famílias, do pensamento, das reflexões, pela mensagem. Desconfio que poucos livros conseguiram analisar tão profundamente a alma do homem. Uma pena que um livro tão maravilhoso seja tão pouco conhecido pelos brasileiros. 

Um comentário:

Fernanda Cristina Vinhas Reis disse...

Oi Gabi!

Não li porque não li o livro ainda. Mas lembro de assistir a série que a Globo produziu, e foi muito boa. Eu tinha gravado em VHS, mas deve ter estragado. Acho que tenho em DVD, mas não tenho certeza. Se puder assista.

Beijos!

Dinda

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