Título Original:
O Continente
Autor(a):
Érico Veríssimo
Origem:
Brasil
Tradução:
*livro nacional*
Editora:
*sem informação*
Ano de publicação:
1947
1947
Todo brasileiro leitor com um pouco de bom gosto tem a obrigação
de ler O Tempo e o Vento, obra-prima de Érico Veríssimo. Admito: só li os três
primeiros volumes (de quatro) por enquanto, mas pretendo ler outros livros até
voltar para esta saga, com o objetivo aproveitar melhor a história. Portanto,
meu conselho para quem irá começar é, entre os livros, ler outras obras para não
ficar tão exaustivo.
José Lírio, popularmente conhecido como Liroca, está tomando
coragem para atravessar a principal rua de Santa Fé e tomar posto na torre da igreja,
onde vigiará o Sobrado, lar dos Terra Cambará. Por muito tempo, Liroca
frequentou o Sobrado, sendo amigo íntimo de Licurgo Cambará, o patriarca, e
apaixonado por Maria Valéria, cunhada de Licurgo. Mas agora ele precisa chegar
até a igreja e impedir que os sitiados alcancem o poço de água.
A luta é entre federalistas e republicanos em um pequeno município
no interior do Rio Grande do Sul no ano de 1895. Licurgo é o principal
representante de um dos grupos em Santa Fé, enquanto Bento Amaral, “que domina
Santa Fé politicamente”, e seu filho Alvarino estão do outro lado. A rivalidade
entre os Amaral e os Cambará é antiga e será explicada em um dos capítulos do
livro.
Partindo de Liroca e entrando no Sobrado, o clima é de
tensão e medo, pois, além dos homens estarem sem água, comida e munição, a
esposa e prima de Licurgo, Alice, está muito doente e em trabalho de parto. Por
outro lado, Maria Valéria mantém a casa organizada e cuida da irmã e dos dois
sobrinhos, Toríbio e Rodrigo, como uma rainha em seu castelo. Licurgo vigia a
rua, seus homens e pensa em sua amante, Ismália Caré. Já Dona Bibiana (grande
mulher), está sentada no sótão em sua cadeira de balanço. Quem vê aquela
senhorinha caquética e caduca, jamais imaginaria a mulher forte e imponente que
foi.
Os capítulos que se passam no Sobrado são basicamente sobre
as situações destes personagens (Licurgo, Maria Valéria, Alice, Rodrigo,
Toríbio e Bibiana). Outros personagens como Floriano, tio e sogro de Licurgo, e
Fandango, o capaz do latifúndio dos Cambará, também aparecem e mostram sua
importância.
No Continente também será narrada a origem da família,
iniciando com Pedro Missionério, um jovem “índio” misterioso e místico, que
foge de um massacre em sua vila e acaba na fazenda de Maneco Terra, um homem
rijo, brutal, quase primitivo. Ele é pai de Ana Terra, uma bonita moça que,
apesar de jamais ter saído de suas terras, é de uma coragem austera e
inabalável. Ana, quase acidentalmente, engravida de Pedro, que é assassinado
pelos irmãos Terra. Seu “desfrute” coloca à prova a coragem citada, quando Ana
vê sua família rechaçá-la e ela dá à luz Pedro Terra, que será ignorado pelo
avô (pelo menos, por um tempo).
Como bem sabemos, Rio Grande do Sul, por ser uma fronteira,
vive assolado por guerras e conflitos. Ana Terra não fugiria deste carma. E
mais uma vez, sua coragem entra em ação.
Depois de reviravoltas assustadoras, Ana e Pedro,
acompanhados por uma cunhada e sua filha, partem com um comboio com destino
para Santa Fé, uma recém-fundada vila por Ricardo Amaral. Nesta vila, Pedro se
casará com Arminda e terá dois filhos: Juvenal e Bibiana.
Juvenal, quando já moço, conhecerá um certo Capitão Rodrigo
Cambará: sedutor, boêmio, impulsivo, explosivo. Qualquer pai de família
sentiria os pelos do corpo eriçarem se um homem como este se aproximasse de sua
recata filha... Pedro Terra saberá descrever melhor esta situação quando
Juvenal ajuda Rodrigo a se alojar na cidade e apresenta (indiretamente) sua
irmã a ele.
Por um momento, Rodrigo, no calor de sua paixão por Bibiana,
pensa em “endireitar a vida” para casar com a linda moça, porém encontrar
concorrência em Bento Amaral. Não que isto seja um problema, pois ele é um Cambará
e Cambará macho não foge.
Inicia uma rivalidade entre Cambará e Amaral que perdurará
por anos. Rodrigo e Bento duelam certa noite, mas Bento foi desleal e quase
assassina seu oponente. Rodrigo ficará aos cuidados de Bibiana e, com a ajuda
do Padre Lara, consegue enfim casar-se com a moça (para o desagrado do Amaral).
O casal têm três filhos: Bolívar, Anita e Leonor...
Mas esta alegria não dura por muito tempo: Rodrigo não consegue
manter sua rotina ajuizada e começa a procurar por sua liberdade: jogo, bebida,
mulher, guerra. Apesar de trazer uma imensa infelicidade para Bibiana, esta
última ignora libertinagens do marido, focando-se no cuidado da casa e dos
filhos. E esta já triste realidade se torna pior com o início da Guerra dos
Farrapos, quando Rodrigo parte para os conflitos sem aviso.
Anos se passam depois das consequências da Guerra, Bolívar e
seu primo Floriano se apaixonam pela mesma mulher: Luzia Silva, neta de
Aguinaldo Silva. Porém, apesar de sua beleza estonteante, tem algumas peculiaridades
que lhe rendem a antipatia de toda Santa Fé. Paradoxalmente, Bibiana incentiva
seu filho a se casar com a moça... Mas qual seria o verdadeiro motivo daquela
pacata e respeitada senhora?
Bolívar, apesar de ser magnificamente parecido com seu pai,
de nada tem sua personalidade: é mais sentimental e não é entregue aos prazeres
da vida. Por outro lado, seu amor cego por Luzia faz com que ele se entregue
erroneamente às vontades sórdidas da mulher. Para a sorte do rapaz, ele pode
contar com sua mãe que enfrentará a “teiniaguá” de frente.
Bolívar e Luzia tem um filho, Licurgo, que será sagazmente criado
pela avó no Angico. Será neste latifúndio que o clã Caré se alojará. Sendo um
Cambará, a paixão de Licurgo por Ismália será avassaladora e arriscada,
principalmente com o casamento de Licurgo e Alice se aproximando.
O grande clã Terra Cambará passará por todos os grandes acontecimentos
da história regional e nacional. E mais do que pela parte histórica, esta magnífica
saga de Érico Veríssimo vale a pena pelo romance, pelos personagens, pela trajetória
das famílias, do pensamento, das reflexões, pela mensagem. Desconfio que poucos
livros conseguiram analisar tão profundamente a alma do homem. Uma pena que um
livro tão maravilhoso seja tão pouco conhecido pelos brasileiros.
Um comentário:
Oi Gabi!
Não li porque não li o livro ainda. Mas lembro de assistir a série que a Globo produziu, e foi muito boa. Eu tinha gravado em VHS, mas deve ter estragado. Acho que tenho em DVD, mas não tenho certeza. Se puder assista.
Beijos!
Dinda
Postar um comentário